As 4 ondas da Inteligência Artificial

A Inteligência Artificial (IA) é um dos assuntos mais comentados na esfera dos Negócios e da Tecnologia. Neste artigo, apresentamos a abordagem das 4 ondas da IA, de autoria do cientista e empreendedor Kai-fu Lee.

A Inteligência Artificial (IA) é um dos assuntos mais comentados na esfera dos Negócios e da Tecnologia, envolvendo uma parcela substancial da sociedade em debates tanto técnicos e econômicos como sociais e políticos.


Com a popularização de ferramentas como ChargeGPT ou Perplexity, o grande público passou a ter contato direto com alguns recursos de IA, muitas vezes atribuindo a esses sistemas níveis de “inteligência” que efetivamente ainda não dispõe.


O fato é que desde o advento dos primeiros computadores, na época conhecidos como “cérebros eletrônicos”, muitos imaginavam já estarem disponíveis recursos genéricos de emulação do pensamento humano.


Desde então, muitas obras ficção, sejam filmes como “2001: Uma Odisseia no Espaço”, dirigido por Stanley Kubrick, ou livros como “Eu, Robô”, de Isaac Asimov, previam o advento de equipamentos dotados de autonomia e capacidades avançadas de raciocínio.


Se a “Inteligência Geral Artificial – IGA”, que na caracterização do consultor Tom Taulli representa esta capacidade de aprendizagem, raciocínio e autonomia em IA, ainda não se encontra disponível e nem se tem previsões críveis para seu advento, ferramentas específicas e focadas têm apresentado notável evolução e são usadas crescentemente em várias esferas.


Seu desenvolvimento tornou-se viável a partir de alguns fatores chaves: a grande capacidade computacional e a gigantesca quantidade e qualidade de dados atualmente disponíveis assim como o avanço da pesquisa científica em algoritmos – em especial o “deep learning” e as redes neurais artificiais, que permitiram o “aprendizado” a partir do processamento de grande volume de informações.


Este intenso esforço para evolução tecnológica deu origem a novos métodos voltados à resolução de problemas e à melhoria de resultados de negócios específicos, usando potência computacional, amplo espectro de dados e algoritmos de grande sofisticação. Uma de suas consequências é o crescente valor agregado tanto às empresas e entidades que os desenvolvem como aos clientes que as adotam.


Para explicar o atual estágio de desenvolvimento e avaliar o futuro da utilização da IA, o cientista e empreendedor Kai-fu Lee traz a interessante abordagem das 4 ondas da Inteligência Artificial.


A primeira delas é a “IA da internet”. Trata-se do uso da IA para melhoria da experiência dos usuários na Internet seja nas redes sociais, em motores de recomendação, para a exibição de anúncios pertinentes ou em mecanismos de busca e produção automática de textos. Todos os que usam internet já conhecem seus efeitos no dia a dia. A maioria de nós já os “naturalizou” como características comuns do mundo digital.


A segunda onda, também já em curso, se constitui no uso de algoritmos para automação de processos de negócio, com alto nível de precisão e acurácia para obtenção de excelentes resultados, maximizando lucros e reduzindo custos.


São usados por empresas para acelerar o retorno em processos chaves, substituindo ou complementando o trabalho humano, com utilização intensiva de dados e mecanismos de autoaprendizagem. Por ter capacidade de estabelecer conexões em escala muito superior ao cérebro humano, podem resolver questões complexas e apresentar predições inigualáveis.


Tem utilidade em áreas tão diversas como análise de crédito, previsão da valorização de ações na Bolsa, escolha de rotas e planejamento logístico ou mesmo diagnóstico de doenças e avaliação de exames médicos ou a previsão de fenômenos climáticos.


A terceira onda é a IA da Percepção. Não se trata apenas do tratamento de imagens ou sons, tecnologia há muito utilizada, mas de prover capacidade de reconhecimento, interpretação e tomada de decisões a equipamentos, baseada na observação da realidade obtida a partir da captura de informações por sensores inteligentes.


Esse é um passo fundamental para a ampliação da digitalização e da integração dos mundos on-line e off-line. Há uma enorme gama de aplicações na esfera doméstica e no uso dessas informações para a prestação de serviços e a organização do espaço público de cidades inteligentes, entre outros.


Embora o uso deste tipo de sistemas ainda seja incipiente, já os vemos sendo usados para o reconhecimento facial no pagamento de contas, em controles inteligentes de tráfego e em equipamentos que entendem e interpretam comandos por voz.


A quarta onda é a da IA autônoma. Trata-se da fusão das características das ondas anteriores, unindo o tratamento de dados em larga escala por algoritmos complexos e providos de autoaprendizagem e a capacidade sensorial obtida por meios digitais.


As máquinas com este tipo de poder irão não apenas compreender o ambiente que as cercam como interagir ativamente, assumindo tarefas em diversas áreas, antes restritas ao trabalho humano.


Estamos falando, por exemplo, de veículos autônomos que tem capacidade de conduzir cargas e pessoas com total segurança. Ou robôs com real autonomia de trabalho, sem necessidade de supervisão humana, como ocorre nas atuais plantas industriais automatizadas.


Já existem estudos relativamente avançados na criação de veículos autônomos e na construção de robôs mais avançados, usados em aplicações na agricultura, no varejo e nas indústrias mas o potencial de evolução deste tipo de tecnologia é gigantesco e o investimento em pesquisa e desenvolvimento neste campo chega a cifras de bilhões.


Porém a questão mais relevante neste panorama não está na esfera técnica mas nas consequências econômicas, sociais, políticas e culturais de uma IA efetivamente autônoma.


O que preocupa a todos que se debruçam mais seriamente sobre a IA são os grandes desafios que às sociedades precisam enfrentar. Como a necessidade de qualificação de pessoas, o potencial de crescimento do desemprego, a perda de competitividade de empresas que não disponham de tais tecnologias e a possibilidade da ampliação da concentração de negócios com grandes corporações detentoras deste conhecimento. Há inclusive previsões que indicam o risco do crescimento da desigualdade entre as nações e o incremento das tensões geopolíticas e militares.


De todo modo, é essencial que empreendedores, executivos e profissionais de maneira geral se mantenham atualizados sobre os rumos da IA de forma a preparar suas empresas e carreiras para os novos desafios que virão.